sexta-feira, 6 de junho de 2008

Conferência Nacional GLBT e o LULA!
























Estão abertos os trabalhos da 1º Conferência Nacional GLBT com a solenidade de abertura que contou com discurso motivador do presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva, no centro de eventos do Brasil 21 (em Brasília).

O dia cinco de junho de 2008 será lembrado como um marco da luta da diversidade sexual no Brasil e até mesmo no mundo como uma data histórica para Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Um dos países que mais têm homicídios por discriminação é o primeiro a ter o apoio declarado do Governo ao chamar a sociedade civil para discutir políticas públicas.
Veja trechos da solenidade em vídeo: AQUI.

Ao compor a mesa e citar o nome de Lula, a platéia ficou eufórica. Ministros e representantes da militância se sentaram diante de cerca de 400 pessoas, segundo a equipe brigadista. Alguns poucos deputados federais e senadores estavam nas primeiras filas com representantes da militância de todo o país e ainda observadores convidados de 14 países. A imprensa nacional estava em peso para registrar o fato que será multiplicador de iniciativas nas demais instâncias dos poderes públicos.


Mais de 400 pessoas, segundo a brigada militar, assistiram a solenidade de abertura da I Conferência Nacional GLBT


O primeiro a se pronunciar foi Paulo Vanucchi, Secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. “Estou em clima de grande emoção. Neste ano em que comemoramos os 60 anos da declaração de Diretos Humanos, cito três palavras que devem nortear esta conferência: liberdade, igualdade e fraternidade. (...) Ódio mais preconceito é igual a violência, em especial aos GLBT”. E lembrou do número recentemente apresentado pelo Grupo Gay da Bahia que diz que a cada três dias um homossexual é morto no Brasil. “Queremos declarar aqui a homofobia como falta de democracia”, e explicou que a intenção dele é fazer do país referência como local que aceita a diversidade.

Antes de terminar o discurso, Paulo pediu aos delegados da conferência que tenham três ponderações durante as discussões: 1) Não subestimar a idéia de unidade do movimento. Que é necessário agirem juntos para terem voz; 2) Lembrar que a plataforma aprovada terá conteúdo político maior que qualquer outra resolução já elaborada em 40 anos. A dimensão é muito grande assim como a responsabilidade; e 3) Ver esta luta como parte da mesma luta de outros diretos humanos, como os das crianças, negros, índios e mulheres. “Todos queremos o Brasil para mais brasileiros” finalizou o secretário.

Fernanda Benvenutti, transexual representante da sociedade civil, fez ponderações que instigaram a platéia. “Vamos agora tentar mais uma vez traçar políticas públicas afirmativas após centenas de vidas terem sido decepadas e decapitadas. Os caso de homicídios são muito maiores que os citados”, disse. O atual número de 100 mortes por ano, para a militante, pode ser muito maior se consideradas ocorrência escondidas ou não declaradas. “Precisamos mudar a realidade deste país. Ser travesti no Brasil é correr risco de morte”, finalizou com a abertura de um grande painel com fotos na frente do presidente.

Em seguida Toni Reis, articulador político e presidente da ABGLT, elogiou o empenho de Paulo Vanucchi na luta por estes direitos da comunidade em questão e que o secretário já a ofereceu mais do que ela pediu. A Lula apelou por destinação fixa de verba para implementação de ações e controle do Plano Nacional Brasil Sem Homofobia. “Precisamos que o senhor presidente, com toda esta forma carinhosa de falar, consiga a aprovação da criminalização da homofobia”. E pediu em coro um grito de guerra: “Nem mais nem menos, diretos iguais”.

Uma bandeira e um boné do arco-íris foram entregues a Lula, que recebeu o presente com simpatia e posou para fotos no mesmo momento.

Lula e Dona Mariza ganham bonés e bandeira arco-íris
José Gomes Temporão, Ministro da Saúde, citou a árdua luta que Betinho traçou na defesa dos direitos dos portadores do vírus da Aids e em seguida a ‘Ação da Cidadania contra a Miséria e Pela Vida’, movimento pelos pobres e excluídos. E elencou projetos implantados por sua gestão como a possibilidade do uso do nome social de trans em vários órgãos do governo e anunciou a próxima ação: “Até o final do mês de junho, poderá ser feita no Sistema Único de Saúde a cirurgia de readequação de sexo”.

Finalmente chegou a vez de Lula ir ao microfone. Ovacionado o tempo todo, convenceu a platéia do apoio presidencial. Leia trecho do discurso do presidente da república.

Não é fácil para um presidente nem aqui no Brasil e nem em nenhum país do mundo participar de evento que envolva um segmento tão grande, tão heterogêneo e tão motivo de preconceito quanto vocês.(...) Preconceito é a doença mais perversa do ser humano. Precisamos arejar nossas cabeças para conseguirmos ter uma revolução cultural no Brasil. (...) Ninguém pergunta a sua opção sexual na hora que você vai pagar o imposto de renda. (...) Estamos vivendo no Brasil um momento de reparação. (...) Nós precisamos criar no Brasil um dia de combate à hipocrisia, eu sei que isso fere pessoas, deixa outras angustiadas, mas o dado concreto é que se eu não criar alguém vai criar. Sabe por que é preciso criar o dia da hipocrisia? Porque quando se trata de preconceito, eu o conheço nas minhas entranhas e eu sei o que é o preconceito. (...) Quando coloquei o boné [boné com a bandeira do arco-íris entregue por Toni Reis ao presidente] senti o mesmo preconceito de quando coloquei o boné do Movimento dos Sem Terra na minha cabeça. (...). As propostas que vocês entenderem que sejam as melhores e possam garantir. Eu posso dizer a vocês, no que depender do apoio do Governo e dos meus ministros, nós iremos trabalhar para que o Congresso Nacional aprove o que precisar aprovar neste país.

Uma criança subiu ao colo de Lula e puxou em coro a palavra de ordem que dá norte à conferência ‘Brasil sem homofobia’. O hino nacional foi cantado por iniciativa também da platéia para então o coquetel ser servido no saguão do auditório.


Fotos: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr. Vídeo: Thiago Malva/ParouTudo

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