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quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Buenos Aires!
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Nossas Histórias!
Agradecimento especial ao meu amigo Gabriel Vital por me enviar a notícia por e-mail.
Att,
Itamar Matos (Ita)
Mulher luta nos tribunais pela guarda dos filhos da companheira
Marcelo Abreu - Correio Braziliense
E essa é a história de Aparecida Maria de Oliveira, 44 anos, devota de Nossa Senhora Aparecida, nascida na Bahia, criada em Formosa (GO), quatro filhos, três netos, ex-depiladora, ex-doméstica, hoje dona-de-casa, 3ª série primária. E de sua companheira Lenilde Spinola dos Santos, 42, mineira, devota de Nossa Senhora de Fátima, ex-professora de catequese, segundo grau completo, funcionária pública, dois filhos, morta há um mês, vítima de falência renal.
Para entender é preciso voltar no tempo. Muito tempo. Aos 12 anos, Aparecida começou a se sentir atraída por mulher. Menina, não entendia bem o que se passava. "Minha primeira paixão platônica foi por uma moça bem mais velha que eu. Admirava a beleza dela. Não era sexo, era admiração", ela conta. A mãe um dia desconfiou que Aparecida não se sentia à vontade com rapazes. Ralhou com ela. Ameaçou contar para o pai, agricultor, homem de pés e mãos calejadas. O tempo passou. Aparecida chegou à adolescência. Conheceu um rapaz com quem teve sua primeira filha, hoje com 26 anos. Não se casou. Não gostava dele. Ainda assim, engravidou novamente. Nasceu o segundo filho. Anos depois, veio o terceiro, de um outro relacionamento.
Mãe de três filhos, Aparecida ainda assim se sentia atraída por mulheres. Muitas vezes repreendeu o desejo em função dos filhos. Um dia, conheceu um homem desses que nunca lhe fez perguntas. Aceitou-a como era e com todos os filhos. Joel Mariano da Silva respeitou Aparecida como nenhum homem havia feito antes. Pela primeira vez, ela achou que seria possível ser feliz. "Mas eu nunca enganei ele. Contei sobre meu outro desejo", ela diz. Ainda assim, Joel quis se casar com Aparecida. E ela vestiu véu e grinalda.
Logo, estava grávida pela quarta vez. Era um menino. Assim que o bebê nasceu (hoje tem 16 anos), Joel e Aparecida decidiram se separar. Mas nunca perderam o vínculo. Nem a amizade. "Ele é um homem muito bom, sempre foi", ela reflete. Aparecida seguiu sua vida. Trabalhou como nunca como depiladora. Joel nunca deixou de ajudar o filho dele e os filhos da ex-mulher.
Um dia, em Ceilândia, num bar, Aparecida conheceu uma moça. Lenilde tinha 30 anos. Gostava de viver, passear, tomar cervejinha e se divertir. O envolvimento foi imediato e intenso. Logo as duas começaram um namoro. Aparecida chamou os filhos e lhes contou a verdade. Meses depois, passaram a morar juntas. "No começo, os pais de Lenilde não gostaram muito de mim, não aceitaram a nossa relação, mas depois tudo ficou bem", revela Aparecida.
Os filhos de Lenilde
A vida seguiu. As duas viviam a mesma história. Aparecida passou a cuidar da casa. Lenilde proveu o lar. Os filhos de Aparecida afeiçoaram-se a Lenilde, a quem chamavam carinhosamente de Pio, apelido dela de infância. Emocionado, Ubiratan, hoje com 24 anos, disse ao Correio, na manhã de ontem: "Quando a Pio chegou aqui em casa eu tinha 10 anos. Ela ajudou minha mãe a me criar. Quando eu era adolescente, ela só dormia quando eu chegava da rua. Me dava conselhos, brigava e me ensinou a ser uma pessoa do bem".
Aos dois anos e meio de relacionamento, o desejo da maternidade atiçou Lenilde. Ela chamou a companheira e lhe contou sobre a vontade. Aparecida achou a idéia boa. Incentivou-a. Só havia um senão. Quem seria o pai? Imediatamente a mesma Aparecida encontrou a saída para o impasse. Convidou Joel, o ex-marido, para uma conversa. As duas disseram que só confiavam nele. Não haveria ciúmes. Mais: Aparecida contou aos filhos. Joel se prontificou a ser o pai do filho de Lenilde. Nasceu a primeira filha deles, hoje com 10 anos. Quatro anos depois, o mesmo Joel foi pai mais uma vez. Nascia o segundo filho da companheira da ex-mulher, hoje um menininho de 6 anos.
Casado pela segunda vez, 43 anos, funcionário público, morador de Planaltina, Joel aceitou falar ao Correio. "Eu ajudei no que pude. E acho que fiz a coisa certa. Elas eram felizes. No começo, não entendi a relação das duas, mas depois percebi que era uma coisa normal", ele diz. "Quando nasceu a menina, a gente quis registrar no nome de nós duas, mas a Justiça não aceitou. Aí, o Joel colocou o nome dele na certidão das duas crianças", conta Aparecida. Os filhos da companheira, voluntariamente, passaram a chamar Aparecida de mãe; e a mãe, de Piozinho.
Ação judicial
E mais uma vez a Justiça esbarrou na vida de Aparecida. Com a morte da companheira, ela procurou a Defensoria Pública do DF. A defensora Emmanuela Furtado, 37, casada, três filhos, ouviu a história daquela mulher. Comoveu-se com a luta de Aparecida. E protocolou, na sexta e na última segunda-feira, na 2ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do DF, duas ações. Uma que trata da guarda das crianças da companheira (Aparecida seria a responsável, de fato e de direito, pelas crianças); e a outra, do reconhecimento da união estável post mortem (tornando a companheira herdeira de Lenilde e assegurando-lhe a pensão para seus filhos). "Se não há lei que regulamente essas situações, cabe ao Judiciário fazer com elas existam." E observa: "Os tempos mudaram, a sociedade mudou e provou que essas histórias existem. O juízes não podem se furtar a isso". O processo corre em segredo de Justiça.
Joel, a quem caberia a guarda dos filhos, concordou, em documento anexado à ação, que as crianças devem ficar com Aparecida. "Elas eram uma família. Eu não tenho direito de ir contra isso". Em lágrimas, Aparecida, que passou um ano se curando de uma depressão e cuidando da companheira já doente, conta: "Fui à escola onde as crianças estudam e o secretário disse: 'Isso é uma vergonha! Como é que pode, duas crianças sendo criadas por um sapatão'. Eu chorei e fui à delegacia. A escola afastou ele". Por que entrou na Justiça? "Não foi pela pensão. Só entrei pra não perder meus filhos."
Ainda com os olhos marejados, ela se lembra da companheira: "Foi a Lenilde quem me incentivou a estudar. Eu não sabia ler nem escrever. Ela me falou das coisas da vida. Me mostrou o mundo. O pouco que sei hoje devo a ela. Foi a pessoa mais sagrada que Deus colocou na minha vida. Ela me mostrou que nossa história não era pecado nem crime. Hoje, sem ela, só sinto tristeza e saudade". Nesse instante, a filha mais velha de Lenilde, a menininha de 10 anos, diz que está na hora de ir para a escola. Ela e o irmãozinho pegam a mochila e beijam a "mãe". Na sala de paredes verdes, os retratos onde Lenilde aparece sorrindo. As festas, os aniversários, os sonhos, as lembranças. As fotografias de uma família. O lar construído pelas duas. Uma história de amor incondicional.
http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2008/10/08/noticia_interna,id_sessao=13&id_noticia=38840/noticia_interna.shtml? em 08/10/2008
Relacionamentos
Relacionamentos
Encontrar uma pessoa especial, amar e ser amado, viver uma relação plena. Este é o sonho da maioria das pessoas. De fato, encontrar um parceiro para a vida é um dos nossos maiores objetivos, e merece mesmo muita atenção e investimento. Mas será que isso é mais importante que a nossa felicidade individual? O que significa, de fato, estar com alguém? Por que será que existem pessoas que fazem de tudo de tudo mesmo só para estar com alguém, transformando-se em mendigos do amor, recolhendo migalhas que o parceiro deixa cair?
Algumas pessoas, quando estão sozinhas, ficam obcecadas em encontrar alguém para chamar de seu. Criam uma ilusão de que, ao encontrar um namorado ou uma namorada, instantaneamente seus problemas deixarão de existir. A ciência de fato já provou que nossa química se altera quando estamos apaixonados, e a sensação de bem estar é renovadora. Mas ela só é efetiva em uma relação recíproca, quando amamos e somos amados de volta. Em outros casos, a química pode se alterar de modo diferente. É o que ocorre quando ficamos viciados em outra pessoa e nos comportamos em relação a ela como um drogadito se comporta com a cocaína.
Conforme a idade avança, os homens e principalmente as mulheres ficam ansiosos com a idéia de ficarem sozinhos, de nunca encontrarem alguém.
A pressão da família e dos amigos é grande, mas não é pior que a pressão que vem delas mesmas. Isso gera ansiedade, o que os deixa menos relaxados e espontâneos.
Tanta energia empenhada em encontrar um companheiro, mais atrapalha que ajuda. Não são raras as pessoas que pensam "as minhas opções diminuem com o tempo, então tenho que ser menos exigente para conseguir alguém".
E de menos exigente passam a aceitar ficar com qualquer um, só para não estarem sozinhos. E o que dizer de quem já está em uma relação, mas não é feliz?
Muitas pessoas permanecem em relações com parceiros que as fazem de gato e sapato. Os companheiros ligam quando querem, são grossos e rudes, as brigas são constantes. Essas pessoas reclamam dos companheiros, mas não tomam nenhuma atitude para manifestar a insatisfação ou terminar a relação. Ficam à disposição do outro, e qualquer contato não importa a qualidade do mesmo é melhor que nada.
Aceitam a relação que o companheiro impõe porque percebem que esse é o único jeito de ficar com ele. É claro que queremos ter certeza que tentamos de tudo para a relação funcionar, fizemos o possível e, mesmo assim, não deu certo. Caso contrário, vamos ficar com a dúvida.
Mas, muitas pessoas continuam em relacionamentos frustrantes porque não querem admitir para elas mesmas que o tempo, a energia e os sentimentos investidos foram por água a baixo. Mas se é difícil admitir que a relação fracassou, adiar o término só faz com que ele seja mais doloroso. Equivale a postergar o luto. É como adiar a perda para evitar enfrentar o estar sozinho de novo.
Qualquer que seja a situação, estar com alguém priorizando o fato de estar em uma relação, e não a qualidade da mesma, faz com que nos coloquemos em uma situação desfavorável, mendigando amor. Na posição de quem não pode ter vontades, não deve satisfazer seus desejos, não se permite ter aspirações. Na posição de quem tem que aceitar qualquer migalha, senão vai morrer de fome. Qualquer coisa que venha do outro serve, melhor que nada. Melhor que estar sozinho. Quem está nesse tipo de relação se livrou do problema da solteirice, mas arrumou um problema real.
A preocupação excessiva em estar com outra pessoa cria um problema que não deveria existir, e camufla outro, que é real. Estar sozinho não é um problema. Quando achamos que é um problema, na verdade, procuramos a relação e o parceiro para servir de escudo que nos protege de nós mesmos.
Para muitas pessoas, estar sozinho é o contrário de estar em um relacionamento. Ledo engano. Esta crença nos protege da cruel verdade: nós SOMOS sozinhos.
A jornada da vida é solitária; a cultura humana inventou o casamento e a vida a dois para amenizar a solidão, para compartilharmos nossas vidas com outra pessoa.
Um casal é composto de duas pessoas diferentes que se encontram e que decidem, de maneira responsável, trilhar o mesmo caminho. Precisamos ser inteiros para estar em uma relação. Só podemos ser bons para o outro quando somos bons para conosco.
Precisamos gostar de nós mesmos e da nossa companhia para esperar que o outro goste também. Viver das migalhas de amor do outro, além de nos deixar subnutridos, nos impede de nutrir a nós mesmos. Devemos esperar ser amados. Caso contrário, só encontraremos alguém para estar conosco por caridade.
Cecília Zylberstajn é psicóloga pela PUC-SP, Psicodramatista e Psicoterapeuta de Adolescentes e Adultos.
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